"O Calvário é a montanha dos Santos"  

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Homilia de João Paulo II durante a cerimônia de beatificação de Pe. Pio de Pietralcina.
Domingo, 22 de maio de 1999

Cantemos ao Senhor um cântico novo!».

1. O convite da antífona de entrada exprime bem a alegria de muitos fiéis, que há tempo esperam a elevação de Padre Pio de Pietrelcina às honras dos altares. Este humilde frade capuchinho surpreendeu o mundo, com a sua vida inteiramente consagrada à oração e à escuta dos irmãos.
Inúmeras pessoas foram ao seu encontro no convento de San Giovanni Rotondo e a peregrinação, mesmo depois da sua morte, não cessou. Quando eu era estudante aqui em Roma, tive ocasião de o conhecer pessoalmente e agradeço a Deus ter-me dado hoje a possibilidade de o inscrever no álbum dos Beatos.
Hoje de manhã repercorremos os traços salientes da sua experiência espiritual, guiados pelos textos da Liturgia deste quinto domingo de Páscoa, no interior da qual se coloca o rito da sua beatificação.
2. «Não se turve o vosso coração: crede em Deus, crede também em Mim» (Jo 14, 1). Na página evangélica há pouco proclamada, escutámos estas palavras de Jesus aos seus discípulos, necessitados de encorajamento. Com efeito, a referência à Sua morte já próxima desanimou-os. Eles tinham medo de ser abandonados, de ficar sozinhos, e o Senhor confortou-os com uma promessa específica: «Vou preparar-vos um lugar» e depois «virei outra vez e levar-vos-ei Comigo para que, onde Eu estiver, estejais também vós» (Jo 14, 2-3).
A esta certeza os Apóstolos respondem pelos lábios de Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?» (Jo 14, 5). A observação é pertinente e Jesus não ignora a pergunta que nela é implícita. A resposta que Ele dá permanecerá nos séculos como uma luz límpida para as gerações vindouras: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6).

O «lugar» que Jesus vai preparar está na «casa do Pai»; ali o discípulo poderá estar para toda a eternidade com o Mestre e participar da Sua mesma alegria. Contudo, para alcançar a meta, o caminho é um só: Cristo, ao qual o discípulo se deve conformar cada vez mais. A santidade consiste precisamente nisto: já não é o cristão que vive, mas é o próprio Cristo que vive nele (cf. Gl 2, 20). Meta exaltante, acompanhada por uma promessa igualmente consoladora: «Aquele que acredita em Mim fará também as obras que Eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Meu Pai» (Jo 14, 12).

3. Enquanto escutamos estas palavras de Jesus o nosso pensamento dirige-se ao humilde frade capuchinho de Gargano. Com que evidência estas se realizaram no Beato Pio de Pietrelcina!
«Não se turve o vosso coração: crede...». O que foi a vida deste humilde filho de São Francisco, senão um constante exercício de fé, corroborado pela esperança do Céu, onde poder estar com Cristo?
«Vou preparar-vos um lugar... para que onde Eu estiver, estejais vós também». Que outra finalidade teve a duríssima ascese a que Padre Pio se submeteu desde a adolescência, senão a progressiva identificação com o divino Mestre, para estar «lá onde Ele estava»?

Quem ia a San Giovanni Rotondo para participar na sua Missa, para lhe pedir conselho ou se confessar, vislumbrava nele uma imagem viva de Cristo sofredor e ressuscitado. No rosto de Padre Pio resplandecia a luz da ressurreição. Marcado pelos «estigmas», o seu corpo mostrava a íntima conexão entre morte e ressurreição, que caracteriza o mistério pascal. Para o Beato de Pietrelcina, a participação na Paixão teve matizes de especial intensidade: os singulares dons que lhe foram concedidos e os sofrimentos interiores e místicos que os acompanharam consentiram-lhe viver uma extraordinária e constante experiência dos sofrimentos do Senhor, na imutável consciência de que «o Calvário é a montanha dos Santos».
4. Não menos dolorosas, e humanamente talvez ainda mais fortes, foram as provações que teve de suportar como consequência, dir-se-ia, dos seus singulares carismas. Na história da santidade às vezes acontece que o escolhido, por especial permissão de Deus, é objecto de incompreensões. Quando isto se verifica, a obediência torna-se para ele crisol de purificação, vereda de progressiva assimilação a Cristo, refortalecimento da santidade autêntica. A esse respeito, o novo Beato escrevia a um seu superior: «Só trabalho para vos obedecer, tendo-me feito conhecer o bom Deus, a coisa que Ele mais aceita e o que para mim é o único meio para esperar saúde e cantar vitória» (Epist. I, pág. 807).

Quando sobre ele se abateu a «tormenta», estabeleceu como regra da sua existência a exortação da primeira Carta de São Pedro, que há pouco escutámos: Aproximai-vos de Cristo, pedra viva» (cf. 1 Pd 2, 4). Deste modo, tornou-se também ele «pedra viva», para a construção do edifício espiritual que é a Igreja. E por isto hoje damos graças ao Senhor.
5. «E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção dum edifício espiritual» (1 Pd 2, 5). Como parecem pertinentes estas palavras, aplicadas à extraordinária experiência eclesial que se desenvolveu à volta do novo Beato! Muitas pessoas, ao encontrarem-se directa ou indirectamente com ele, reencontraram a própria fé; na sua escola multiplicaram-se em todos os recantos do mundo os «grupos de oração». Àqueles que a ele acorriam, propunha a santidade, repetindo-lhes: «Parece que Jesus não tem outro cuidado senão o de santificar a vossa alma» (Epist. II, pág. 155).

Se a Providência divina quis que ele agisse sem jamais se afastar do seu convento, como que «plantado» aos pés da Cruz, isto não é isento de significado. Certo dia o divino Mestre consolou-o, num momento de particulares provações, dizendo-lhe que «junto da Cruz se aprende a amar» (Epist. I, pág. 339).

Sim, a Cruz de Cristo é a insigne escola do amor: ou melhor, é a própria «fonte» do amor. Purificado pelo sofrimento, o amor deste fiel discípulo atraía os corações a Cristo e ao seu exigente Evangelho de salvação.

6. Ao mesmo tempo, a sua caridade derramava-se como bálsamo sobre as debilidades e sofrimentos dos irmãos. Assim, Padre Pio uniu ao zelo pelas almas a atenção pelo sofrimento humano fazendo-se promotor, em San Giovanni Rotondo, de uma estrutura hospitalar, por ele chamada «Casa Alívio do Sofrimento». Ele a quis como um hospital de primeira categoria, mas sobretudo preocupou-se por que nele se praticasse uma medicina verdadeiramente «humanizada», onde a relação com o doente se caracterizasse pela mais calorosa solicitude e pelo mais cordial acolhimento. Bem sabia que, quem está doente e sofre, tem necessidade não só de uma correcta aplicação dos instrumentos terapêuticos, mas também e sobretudo de um clima humano e espiritual, que lhe consinta redescobrir-se a si mesmo no encontro com o amor de Deus e a ternura dos irmãos.

Com a «Casa Alívio do Sofrimento» ele quis mostrar que os «milagres ordinários» de Deus passam através da nossa caridade. É preciso tornar-se disponível à partilha e ao serviço generoso dos irmãos, servindo-se de todos os recursos da ciência médica e da técnica.

7. O eco que esta beatificação suscitou na Itália e no mundo é sinal de que a fama de Padre Pio, filho da Itália e de Francisco de Assis, alcançou um horizonte que abarca todos os Continentes. É-me grato saudar todos os que aqui vieram, a começar pelas altas Autoridades italianas, que quiseram estar presentes: o Senhor Presidente da República, o Senhor Presidente do Senado, o Senhor Presidente do Conselho dos Ministros, que chefia a Delegação oficial, além de numerosos Ministros e Personalidades. A Itália está deveras representada de maneira digna! Mas também inúmeros fiéis de outras Nações estão aqui reunidos para prestar homenagem a Padre Pio.

A quantos vieram de perto ou de longe dirige-se a minha saudação afectuosa, juntamente com um especial pensamento para os Padres Capuchinhos. A todos um agradecimento cordial!

8. Quereria concluir com as palavras do Evangelho desta Missa: «Não se turve o vosso coração: crede em Deus». Faz eco desta exortação de Cristo o conselho que o novo Beato costumava repetir: «... Abandonai-vos plenamente no coração de Jesus, como uma criança entre os braços da mãe». Possa este convite penetrar também no nosso espírito como fonte de paz, de serenidade e de alegria. Por que devemos ter medo, se Cristo é para nós o Caminho, a Verdade e a Vida? Por que não confiarmos em Deus que é Pai, nosso Pai?

«Santa Maria das Graças», que o humilde capuchinho de Pietrelcina invocou com constante e terna devoção, nos ajude a ter os olhares fixos em Deus. Ela nos tome pela mão e nos incentive a procurar, com todos os esforços, aquela caridade sobrenatural que brota do lado trespassado do Crucificado.

E tu, Beato Padre Pio, volve do Céu o teu olhar sobre nós congregados nesta Praça e sobre quantos estão reunidos em oração na Praça de São João de Latrão e em San Giovanni Rotondo. Intercede por quem, em todas as partes do mundo, se une espiritualmente a este evento elevando a ti as suas súplicas. Vem em socorro de cada um e dá paz e conforto a todos os corações.

Amém!

Jovem Chiara Luce Badano é beatificada  

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Para todos os jovens que vêem a santidade como uma realidade do nosso tempo, distante daquilo que somos e impossível de ser vivida, eis a história de Chiara Luce Badano, jovem integrantre do Movimento dos Focolares, que teve uma vida comum, mas dedicou-se a viver o evangelho na simplicidade dos dias comuns... dos dias do nosso tempo...




Chiara ''Luce'' (Luz) Badano em diversos momentos da sua vida: alegria e santidade de mãos dadas
Foram necessários apenas 25 minutos para que a jovem Chiara "Luce" (Luz) Badano desse um "sim" definitivo e irrevogável a Jesus.
A postura decidida da jovem alcança um de seus frutos mais importantes neste sábado, 25. É nesse dia que a Igreja proclama oficialmente a italiana como Beata, a primeira integrante do Movimento dos Focolares a alcançar esse reconhecimento – a jovem era extremamente ativa no Gen (Geração Nova), setor juvenil do Movimento. São esperadas milhares de pessoas, de mais de 40 países dos cinco continentes. 
Os pais de Chiara, Maria Teresa e Ruggero Badano, casaram-se com 26 anos, mas tiveram que esperar 11 até que tivessem um filho. "Mas percebemos logo que não era filha apenas nossa, era, antes de tudo, filha de Deus, e como tal a devíamos educar, respeitando a sua liberdade", conta Maria Teresa.


Foi com nove anos e meio que Chiara conheceu o Gen e, ao mesmo tempo, que Deus é amor. "Foi um momento fundamental para a vida de Chiara", testemunha Ruggero.

O início da caminhada mais íntima de Chiara rumo ao seu Esposo Jesus, como gostava de chamá-Lo, começou em 1989, quando estava prestes a completar 18 anos. Ela enfrentou o diagnóstico de um osteosarcoma, tipo de câncer nos ossos, após sofrer uma forte dor nas costas durante uma partida de tênis.

A propósito, ela era uma "esportiva por excelência" e gostava de patinação, montanhas e mar, como lembra sua mãe. "Era uma menina cheia de vida: gostava de rir, cantar e dançar. Era uma jovem maravilhosa", complementa.

"Chiara, não tenha medo de dizer-lhe o seu sim, momento por momento. Ele lhe dará a força, esteja certa disso! Eu também rezo e estou sempre aí com você. Deus lhe ama imensamente e quer penetrar no íntimo da sua alma e fazer com que você experimente gotas de céu. 'Chiara Luce' ('Clara Luz') é o nome que escolhi para você. Você gosta? É a luz do Ideal que vence o mundo. Eu o mando a você junto com todo o meu afeto...", escreve a fundadora do Movimento dos Focolares, Chiara Lubich, em uma das cartas da intensa correspondência que as duas trocaram durante o período da doença

Servizio Informazione FocolariChiara Luce é a primeira membro do Movimento dos Focolares a ser beatificadaE os 25 minutos? A mãe da jovem beata conta essa história, que aconteceu logo depois da primeira sessão de quimioterapia a que Luce teve que se submeter:


Chiara no fim da vida.
 "Naquele dia, eu não podia acompanhá-la, porque estava com flebite e o médico tinha me proibido qualquer movimento. Depois de duas horas intermináveis, Ruggero e Chiara voltaram. Ela vinha na frente, caminhando lentamente, vestida com a sua jaqueta verde. Tinha o rosto sombrio e olhava para o chão. Perguntei como tinha sido e ela, sem me olhar, respondeu: 'Não diga nada agora', e se jogou na cama com os olhos fechados. Aquele silêncio era terrível, mas eu tinha que respeitá-lo. Eu olhava para ela e pela expressão de seu rosto via toda a luta que estava travando interiormente para dizer o seu ‘sim’ a Jesus. Passaram 25 minutos. De repente ela se girou na minha direção, com o sorriso de sempre, dizendo: 'Agora você pode falar'. Naquele momento eu me perguntei quantas vezes ela iria ter que repetir o seu sim, no sofrimento. Mas Chiara precisou, como eu já disse, de 25 minutos, e desde então nunca mais voltou atrás".

Chiara veio a falecer em 7 de outubro de 1990. Ela mesmo havia preparado tudo: as canções de seu funeral, as flores, o penteado, o vestido de noiva, para a sua 'festa de núpcias' com o Senhor.

"As suas últimas palavras – que não foram o seu último ato de amor, porque esse foi a doação das suas córneas a dois jovens – quando se despediu, foram: 'Tchau mamãe! Esteja feliz, porque eu estou feliz'", relata Maria Teresa.

O processo de Beatificação
A iniciativa do processo de beatificação deve-se ao bispo de Acqui, Dom Lívio Maritano, que conheceu Chiara Badano pessoalmente. Eis a motivação: “Pareceu-me que o seu testemunho foi significativo sobretudo para os jovens. Precisamos de santidade nos dias de hoje. Temos que ajudar os jovens a encontrar uma orientação, um objetivo, a ultrapassar a insegurança e a solidão, os seus enigmas perante os insucessos, o sofrimento, a morte, e todas as preocupações. O testemunho de fé e de fortaleza desta jovem é surpreendente. Impressiona, leva muitas pessoas a mudar de vida, temos testemunhos quase todos os dias”.


O processo durou 11 anos. A fase diocesana, entre 11 de junho de 1999 e 21 de agosto de 2000, e no Vaticano, entre 23 de agosto de 2000 a 8 de Julho de 2008, quando a Serva de Deus, com o reconhecimento das “virtudes heroicas”, foi declarada Venerável.

Em 10 de Dezembro de 2009, foi proclamado o decreto pontifício sobre o milagre por intercessão de Chiara Badano: a cura imprevista e inexplicável de um rapaz de Trieste, com uma gravíssima forma de meningite fulminante. Os médicos haviam dado-lhe apenas 48 horas de vida.
 

Existe um só tempo  

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Chiara Luce ( Clara Luz) antes e durante da doença.
«Fugit irreparabile», inicia assim uma dissertação de 1989, de Chiara Luce Badano, a jovem que acaba de ser beatificada (25/09/2010). Já doente de câncer e constrangida a enfrentar tratamentos dolorosos, decidiu continuar os estudos. Por isso foi acompanhada por um professor de letras que, de vez em quando, ia à sua casa.

O tema da dissertação concentra-se no valor do tempo. Chiara Luce parte desta epígrafe em latim, escrita num relógio solar, diante da Igreja da Santíssima Trindade, em Sassello, onde ainda encontra-se um altar dedicado a ela.

« “FUGIT IRREPARABILE TEMPUS”. Esta inscrição latina, no muro da antiga casa, ao lado de um relógio solar, nos lembra, sempre que levantamos o olhar, que cada dia nosso foge velozmente. Assim, com breves palavras, a sabedoria dos nossos pais nos leva a parar um instante e refletir sobre o sentido da nossa vida, que com frequência corre na superficialidade, porque sufocada por uma tediosa rotina cotidiana ou por correrias frenéticas, às quais o viver moderno às vezes nos constrange.

Refletindo percebemos que muitas vezes o homem não vive a sua vida, porque mergulhado em tempos que não existem: ou na recordação ou no remorso...

Na realidade o único tempo que o homem possui é o momento presente, que deve ser vivido interiormente e desfrutado plenamente. Vivendo assim o homem sente-se livre, porque deixa de estar esmagado pela angústia do seu passado ou pelas preocupações pelo seu futuro. Certamente conseguir alcançar esta meta não é, de fato, simples e exige esforço constante... dar um sentido a cada ação nossa, grande ou pequena que seja, em favor dos outros.

Pensando bem cada homem trabalha já pelos outros: também o operário ajustando um parafuso ou o agricultor semeando o campo; mas frequentemente perde o significado mais verdadeiro e importante do trabalho.

Seria necessário, talvez, dar uma intenção nova aos nossos gestos e certamente nos sentiríamos mais realizados, e tomaríamos consciência do valor da nossa vida, dom precioso que não pode e não deve ser desperdiçado nem queimado em egoísmos estéreis e inúteis ambições».



(retirado de “A clara luz de Chiara Luce”, de Michele Zanzucchi, Ed. Cidade Nova, 2005. Em duas semanas a segunda dissertação de Chiara Luce, sobre a liberdade)

Os anjos são santos?  

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Normalmente essa pergunta pode vir à nossa cabeça, mas, como é questão de fé, é importante esclarecer e é bom nos debruçarmos sobre o que diz a Bíblia e a Doutrina da Igreja. Realmente há uma distinção entre a santidade dos anjos e a nossa. Os anjos são santos, mas são espíritos puros dotados de inteligência e vontade e na natureza há uma diferença entre a nossa santidade humana da santidade deles [anjos]. Nós somos humanos dotados de corpo, alma e espírito; os anjos são seres puramente espirituais. Por serem seres espirituais, os anjos bons e maus não podem ter a sua existência provada de maneira experimental e racional; no entanto, a Revelação atesta a sua realidade. Eles são mencionados mais de 300 vezes na Bíblia. Apesar de sua dignidade superior eles são somente criaturas de Deus, nós somos filhos de Deus.

Vejamos o que diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos números:

328 A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto à unanimidade da Tradição.

332 Eles aí estão, desde a criação e ao longo de toda a História da Salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o paraíso terrestre, protegem Lot, salvam Agar e seu filho, seguram a mão de Abraão, comunicam a lei por seu ministério, conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem os profetas, para citarmos apenas alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do próprio Jesus.

333 Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é cercada da adoração e do serviço dos anjos. Quando Deus "introduziu o Primogênito no mundo, disse: - Adorem-no todos os anjos de Deus” (Hb 1,6). O canto de louvor deles ao nascimento de Cristo não cessou de ressoar no louvor da Igreja: "Glória a Deus nas alturas..." (Lc 2,14). Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto, reconfortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como outrora fora Israel. São ainda os anjos que "evangelizam", anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará.

329 Santo Agostinho diz a respeito deles: - “Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz". Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Porque contemplam "constantemente a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10), são "poderosos executores de sua palavra, obedientes ao som de sua palavra" (Sl 103,20).

Para alcançarmos a santidade Deus nos presenteou com um companheiro de caminhada, que conhece como ninguém a vontade do Senhor: Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão. "Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida" (CIC n°336). Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus. Portanto, os anjos são criaturas espirituais que servem ao Senhor e aos homens em relação ao Seu plano divino de salvação. A santidade faz parte da natureza dos anjos, mas para nós seres humanos e limitados pela nossa humanidade ferida pelo pecado, a santidade é uma luta, uma conquista diária, requer vontade firme, renúncias, obediência a Deus e Sua vontade, vida de oração e comunhão com Ele e com os irmãos.

A Igreja fala de virtudes heroicas praticadas por homens e mulheres que foram fiéis e trilharam uma vida santa e os chama de modelos e intercessores: "Ao canonizar certos fiéis, isto é, ao proclamar solenemente que esses fiéis praticaram heroicamente as virtudes e viveram na fidelidade à graça de Deus, a Igreja reconhece o poder do Espírito de santidade que está em si e sustenta a esperança dos fiéis, propondo-os como modelos e intercessores. "Os santos e as santas sempre foram fonte e origem de renovação nas circunstâncias mais difíceis da história da Igreja." Com efeito, "a santidade é a fonte secreta e a medida infalível de sua atividade apostólica e de seu elã missionário" (CIC 828).

Deus nos criou para a comunhão com Ele e "O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador" (CIC nº. 27).

O nosso saudoso Papa João Paulo II afirmou certa vez: "Não tenhais medo da santidade, porque nela consiste a plena realização de toda autêntica aspiração do coração humano. Entre as maravilhas que Deus realiza continuamente, reveste singular importância a obra maravilhosa da santidade, porque ela se refere diretamente à pessoa humana". E o Sumo Pontífice resume tudo dizendo: “A santidade é a plenitude da vida”. Portanto, Deus Pai, na Sua infinita misericórdia e Providência, nos presenteia com os santos anjos para nos ajudar como companheiros na dura caminhada para a santidade.